"Mal falamos delas e escapam-nos os seus nomes. Desde sempre a filosofia negligencia-as, mais por desprezo do que por distracção. São o ornamento cósmico, o acidente inessencial e colorido que campeia nas margens do campo cognitivo. As metrópoles contemporâneas consideram-nas bibelots supérfluos da decoração urbana. Fora dos muros da cidade, são hóspedes toleradas – ervas daninhas – ou objectos de produção em massa. As plantas são a ferida sempre aberta do snobismo metafísico que define a nossa cultura".
Emanuele Coccia
“Terceira paisagem” incita a uma leitura do nosso território através da modelação e
colocação em evidência de uma espécie vegetal presente em abundância, a cana do reino,
Arundo donax, originando, em simultâneo, especificidade na experiência do lugar, a Torre
Mirante da Câmara Municipal do Funchal.
Manifesta-se enquanto potenciador de uma atmosfera específica que convoca a nossa atenção
para fora mas também para dentro, para cima mas também para baixo, numa relação que se
pretende profícua, para refletirmos sobre a paisagem, a biodiversidade nela presente e a
fragilidade da sua subsistência.
O corpo composto pelo material encontrado assume uma presença significativa no espaço o que
determina uma tensão entre dois planos opostos definidos pela ressonância formal, ao mesmo
tempo que invoca o movimento semicircular que o interseta e estabelece uma franca relação
ora com a orografia do Funchal ora com a imensidão do Atlântico, enfatizando a configuração
de anfiteatro.
A torre adquire uma nova forma de se relacionar com o exterior, reinventando-se enquanto
lugar franco para metaforicamente firmar um observatório da paisagem.
Coccia, Emanuele, A Vida das Plantas, Uma Metafísica da Mistura. Disciplina sem nome - Fundação Carmona e Costa, 2019. “Terceira paisagem”, título desta intervenção e de um conjunto de acções que pensam o território e a sua biodiversidade, é um termo tomado de emprestimo a “Gilles Clemente”, Jardineiro, botânico, entomologista e escritor Francês, que no seu manifest du tiers paysage (manifesto da Terceira paisagem), leva-nos a considerar a biodiversidade que se manifesta nos espaços intersticiais ou residuais à margem da actividade humana.