A Capela da Nossa Senhora da Oliveira (ou Capela da Boa Viagem), datada de
1655, é um pequeno monumento inserido na zona velha do Funchal. Para o seu interior
Hélder Folgado
concebeu uma peça de cariz minimal: uma faixa vertical de papel químico suspensa a
partir do teto rasa, no plano inferior, um quadrado moldado em cera de abelha. O
cinzento da tira alongada e a cor de mel do quadrado compõem um vibrante contraste
naquilo que poderia ser o desenho de uma composição de um pintor minimalista. O olhar
é dirigido quase como uma inevitabilidade compulsiva para esse pequeno espaço que
define o encontro destas duas formas e destes dois materiais, para se perceber que esse
encontro não se dá verdadeiramente por uma margem milimétrica.
Para adensar conceptual e percetivamente a proposta,
o autor joga com a presença de um terceiro elemento: o ar que qualquer tipo de
movimentação no interior do espaço exíguo da capela torna palpável, pois transforma
a tira de papel químico num Pêndulo (título da obra) subserviente das coreografias
aleatoriamente orquestradas por visitantes
e correntes de ar imprevisíveis. No limite entre a pintura
e a escultura (remetendo para ambas as disciplinas por anamnese visual), esta
instalação dialoga com excecional limpidez com as características do espaço. Tão
intrigante quanto o monólito de 2001 – Odisseia no Espaço, o filme de Stanley Kubrick,
esta obra parece uma epiderme insinuante que se apropria de um lugar para nele atrair
todos os desígnios de uma liturgia por inventar.
Miguel Von Hafe Pérez
Capela da Nossa Senhora da Oliveira (or Capela da Boa Viagem) dates from 1655. It is a
small monument in Funchal’s
old city. For its interior Hélder Folgado designed a minimal piece: a vertical strip of
carbon paper suspended from the ceiling hovers on top of a square made from beeswax. The
grey coloured strip of paper contrasts with the golden square, creating a vibrant
tension in a composition that brings to mind Minimalist painting. Our gaze is almost
compulsively directed towards the small space where the two forms and materials meet,
only to realize that they miss each other by
a millimetre.
To strengthen his proposal, both conceptually and perceptively, the author makes use of
a third element: the air that, in the exiguous space
of the chapel, is made palpable by the smallest movement, and animates the paper strip
with the pendular movement from which the piece borrows its title. Between painting and
sculpture (referring to both disciplines by visual anamnesis), this installation
dialogues with exceptional clarity with the characteristics of the space. As intriguing
as the black monolith in Stanley Kubrick’s 2001: A Space Odyssey, this work resembles an
insinuating epidermis that appropriates a place and serves as the attractor of the
implements of a liturgy that is yet to be invented.