Figure Section ∙ Instalação Site-oriented em Co-autoria com João Almeida ∙ Casa da Cultura Santa Cruz — Promenade Santa Cruz, 2023

Temos o hábito de identificar as plantas com as flores, que são as suas expressões mais faustosas; ou com o tronco das árvores, a sua formação mais sólida. Mas a planta é, antes e acima de tudo, a folha. As folhas não se limitam a ser a parte principal da planta. As folhas são planta: tronco e raiz são partes da folha, a base da folha, o simples prolongamento pelo qual as folhas, ao mesmo tempo que permanecem no ar, se apoiam e se aprovisionam do alimento do solo, [...] A inteira planta é identificável pela folha, já que os outros órgãos são apenas apêndices. É a folha que produz a planta: são as folhas que formam a flor, as sépalas, as pétalas, os estames, os pistilos, cabendo também às folhas formar o fruto.

Emanuelle Coccia

Figure Section recorre ao semicírculo enquanto linguagem e à intercepção como método de relação para o desenvolvimento de uma instalação artística, composta por três esculturas em metal, instaladas na passeio marítimo de Santa Cruz.
A partir de uma leitura do lugar — composto por um plano, o do cais, que se precipita sobre o mar e que intercepta visualmente a linha do horizonte, e por um semicírculo no seu extremo oposto, que descreve uma enseada no espaço público — considera-se oportuno imprimir na concepção desta instalação o princípio da reverberação, enquanto leitmotiv para aludirmos às estratégias de crescimento de uma planta.
Se atendermos à geometria elementar da estrutura de uma pétala, folha, ou fruto, encontramos, amiúde, formas oblongas, circulares, ou semicirculares, que se lançam no espaço a partir de um segmento de recta, uma haste. Podemos também constatar que ocorre uma diferenciação das formas a partir de uma mesma estrutura, ou seja, as formas desenvolvem-se a partir de uma matriz, com intervalos mais ou menos regulares, compondo a complexidade da sua presença. Acresce a tudo isto que, nas suas estratégias de intercepção para suster as formas no espaço, as plantas organizam volumes permeáveis que adquirem complexidade maior com a presença da sombra projetada. Esta relação com a luz do sol, enquanto matéria de construção e modelação das formas no espaço, tem capacidade de aludir a contextos muito diferenciados e por sinal abertos a múltiplas interpretações.
Resta, ao nível formal, estimular o princípio de conteúdo, de cápsula, de canal, a partir da demarcação de uma secção semicircular que tornar-se-á aferível a partir de uma percepção mais aproximada destes elementos formais: estes elementos semicirculares são compostas por duas secções de um mesmo elemento formal, neste caso o tubo metálico. Esta estratégia construtiva, que não é alheia a outros modelos de estudo e compreensão das formas, torna evidente o título desta instalação e reforça essa ideia, mesmo sendo diferente, e a complexidade crescente das formas como princípio para a organização das mesmas no espaço. Figure Section é, então, uma proposta que parte da linguagem elementar e permeável à presença física dos transeuntes sem deixar de parte a poética dos elementos para a sua fecundação.

imagens actividades

Piet Mondrian ‘Grey Tree’ (1911)

imagens actividades

Grew, Nehemiah, 1641-1712