Androcéu ∙ Casa da Cultura Santa Cruz — Foz da Ribeira de Santa Cruz, 2022
“A flor, é, desde logo, um atractor: em vez de se dirigir para o mundo, atrai o mundo a si.
Graças às flores, a vida vegetal torna-se lugar de uma explosão inédita de cores e formas, assim
como de conquista do domínio das aparências. Na flor, sexo, formas e aparências confundem-se.
Para Além disso, as formas e as aparências são dispensadas de toda a lógica expressiva ou
identitária: elas não devem exprimir uma verdade individual, nem definir uma natureza ou
comunicar uma essência. [...] As formas e as aparências não devem comunicar um sentido ou um
conteúdo, devem antes pôr em comunicação seres diferentes — diferentes não apenas em número (o
macho e a fêmea da mesma espécie), mas na espécie, no reino, no domínio ontológico (das plantas
com insectos, dos cães, dos homens...). Na flor, a forma é o laboratório da conjugação, o espaço
da mistura discordante.“
Emanuele Coccia, “A vida das plantas — Uma Metafísica da Mistura”